TEMPUS FUGIT
Essa máxima latina está em volta de muitos relógios antigos por aí. O tempo foge.
Todos falam em tempo. Mas ninguém para pra pensar o que é o tempo.
Até Agostinho de Hipona, grande pensador do século IV de nossa era, vacilou ao interrogar o que é o tempo. Veja o que ele diz em seu livro Confissões:
O que é o tempo? Tentemos fornecer uma explicação fácil e breve. O que há de mais familiar e mais conhecido do que o tempo? Mas o que é o tempo? Quando quero explicá-lo, não encontro explicação. Se eu disser que o tempo é a passagem do passado para o presente e do presente para o futuro, terei que perguntar: Como pode o tempo passar? Como sei que ele passa? O que é o tempo passado? Onde ele está? O que é o tempo futuro? Onde ele está? Se o passado é o que eu, do presente, recordo, e o futuro é o que eu, do presente, espero, então não seria mais correto dizer que o tempo é apenas o presente? Mas quanto dura o presente? Quando acabo de colocar o ´r´ no verbo ´colocar´, esse ´r´ é ainda presente, ou já é passado? A palavra que estou pensando em escrever a seguir é presente, ou é futuro? Afinal, o que é o tempo? E a eternidade?
A visão do tempo depende da percepção de cada um. Einstein, explicando a relatividade de forma simples, disse que, se estivermos ao lado de uma bela garota, uma hora passa em um segundo; se pusermos a mão no fogão quente, um segundo parece ser uma hora. Às vezes, o tempo nos parece lento, uma tartaruga. Outras vezes, temos a percepção de que tudo vai muito rápido, o tempo parece estar com pressa, atrasado para chegar a algum lugar. A pressa ou a lentidão do tempo depende de nossa percepção.
Presente, passado, futuro. O presente é aquele fio tênue, finíssimo, colocado entre dois infinitos: o futuro e o passado. Cada momento presente vai-se tornando passado. Num repente, o futuro se torna presente, e este, num repente, vira passado.
O tempo passa? Ou somos nós que passamos?
Pensar isso leva a quê?
Leva-nos a pensar. Tempus fugit. O tempo foge, flui entre os dedos. Passa como o vento, como a água do rio. Cada tique-taque do relógio é um novo tique-taque, diferente do anterior, que já foi. É preciso viver o momento presente. Intensamente. Saboreá-lo, degustá-lo. Carpe diem. Colha o dia. Colha cada dia como da árvore se colhe o fruto. Cada dia, cada momento é único; curta-o, sinta o seu sabor. Nada deixe para depois. Não se pode adiar a felicidade. São quatro as coisas que não voltam: o tempo passado, a oportunidade perdida, a pedra lançada, a palavra proferida.
E dizer que pensar isso leva a nada? Não seria melhor dizer que pensar isso mexe com a pessoa e pode elevar o nível da nossa qualidade de vida?
O Mestre pediu para não nos preocuparmos em excesso com o dia de amanhã; a cada dia bastam os seus cuidados. Não é à toa que nos ensinou a rezar assim: o pão nosso de cada dia nos daí hoje. Hoje. Amanhã é amanhã.
Ensinou-nos ainda, poeticamente: Olhai as aves do céu: não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros. E nada lhes falta. Olhai como crescem os lírios do campo. Não trabalham nem fiam. No entanto, nem o rei Salomão, com toda a sua pompa, se vestiu como um deles.
É óbvio que tal ensinamento, como muitos outros da mesma fonte, há de ser devidamente interpretado.
Se observarmos em nossa volta, veremos muito estresse, muita correria, muita agitação. Consequentemente, muita depressão. Por que se corre tanto? Para que se corre tanto? Para onde se corre tanto?
Lembra-se da estranheza do pequeno príncipe, em sua visita ao planeta terra, ao ver os trens, apinhados de gente, correndo em disparada?
É assim: vida agitada; muito se corre, muito se faz, muito se fala; pouco se ouve, pouco se pensa. Na verdade, para ser feliz, a gente precisa de muito pouco.
O ser humano fica velho muito rápido e sábio muito tarde, quando não há mais tempo.
Tempus fugit.
REVOLUÇÃO COPERNICANA NA TEORIA DO CONHECIMENTO
Na história da astrofísica, chama-se revolução copernicana aquela em que o célebre astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), fugindo à geral convicção de que a terra ocupava o centro de nosso sistema (geocentrismo), passou a ensinar e comprovar que a terra, até então considerada o centro, nada mais era do que um pequeno planeta girando, como muitos outros, em torno do sol, a grande estrela, esta, sim, o centro de gravitação de todo o sistema (heliocentrismo). Raios de condenação caíram sobre Copérnico, arremessados por aqueles que se consideravam, na época, os detentores do monopólio da verdade.
No campo da teoria do conhecimento, o filósofo alemão Emanuel Kant (1724-1804) fez uma revolução semelhante à que Copérnico fizera no mundo dos astros. Até então, o objeto a ser conhecido era o centro na dinâmica do conhecimento; em torno dele, giravam os sujeitos, a saber, os seres humanos, buscando, a todo custo, conhecer o objeto, sem questionar os seus próprios limites.
Kant disse o contrário: no centro do processo de conhecimento, está o sujeito; em torno do sujeito, giram os diversos objetos. Alguns o sujeito capta; outros, não. O conhecimento se adquire na medida do sujeito, isto é, na medida de sua capacidade, naturalmente limitada, havendo objetos que escapam à antena do conhecimento humano.
Realmente, e foi Kant quem deu o alerta, é muita arrogância querer que todo e qualquer objeto caia na pequena rede de nosso conhecimento. A capacidade que o ser humano tem de conhecer é limitada. Kant teve uma posição filosófica humilde, realista.
A essa mudança de centro na teoria do conhecimento se dá, por analogia, o nome de revolução copernicana.
Isso tem implicações em nosso dia a dia, pois há coisas que extrapolam nossa esfera de conhecimento. Exemplos: Deus existe? O que é Deus? Quem é Deus? O que acontece com o ser humano após a morte? A vida prossegue? Como?
Como esses, existem muitos outros questionamentos cujas respostas transcendem, estão além de nossa capacidade.
Em vez de se aventurar em explicações simplórias, ingênuas, não seria mais sensato cada um conscientizar-se de seus limites e reconhecer, como Sócrates: só sei que nada sei? Por que essa presunção de conhecer todo objeto, real ou imaginário, que se coloca à nossa frente? O que sabemos é uma gota d´água; o que não sabemos é um oceano.
Atitude científica, atitude de pesquisa, sim; mas com consciência de nossos limites. Essa autocrítica nos fará evitar muitos conflitos ideológicos, com cheiro de radicalismo, verdadeiros muros de separação, cimentados de intolerância e que levam a nada.
A humildade, que é filha da realidade, nos irmana muito mais do que as verdades impostas.
CONHECIMENTO
Alguém disse que, se Karl Marx escrevesse hoje, não mais escreveria O Capital; escreveria O Conhecimento. Realmente, conhecimento é hoje o maior capital.
É sempre bom estar atento à etimologia da palavra, pois nenhuma palavra existe à toa. Sua raiz traz sempre um significado.
Na língua grega, conhecer é gnósko; lá está o gn, de gênese, dar origem, gerar. No Latim, conhecer é cognoscere; veja a persistência do gn. Passando para as línguas latinas, houve alguma modificação gráfica do gn. Em Português, deu conhecer; em Francês, connaître.
Etimologicamente, em todas essas línguas, conhecer é exatamente conascer, nascer com. Quando conheço você, você nasce para mim, e eu nasço para você. Nascemos juntos (conascemos) um para o outro. Existe nisso algo simples, mas profundo. Para ser profundo, não é preciso ser complexo (complicado).
No ato de conhecer, existe um nascimento, uma geração, uma nova vida. Quando adquiro um novo conhecimento, não sou mais o mesmo.
Conhecimento é mais do que uma simples informação, aquela que se dá, por exemplo, por um noticiário lido ou ouvido. O conhecimento pode, sim, partir de uma informação. Alguma informação é recebida, introjetada, assimilada, isto é, torna-se semelhante a mim, passa a circular no meu sangue, fazendo parte de mim. Ali, ela germina, cresce em mim e comigo. Isso é conhecer. Das informações, algumas se perdem, vão com o vento; outras se plantam em mim e viram conhecimento.
Quando você chega a saborear o conhecimento, sentir prazer nele, a ponto de colocá-lo a serviço de seu próprio crescimento e do crescimento dos outros, aí já é a sabedoria. Sabedoria, sapientia, do verbo latino sapere, é saborear, degustar. Veja como saber se parece com sabor. Saber com sabor; isso é sabedoria.
Existe, portanto, uma dinâmica progressiva: informação... conhecimento... sabedoria.
Ao que parece, existe hoje uma avalanche, uma superprodução de informações, mas pouco conhecimento; sabedoria, menos ainda. Ouve-se muito, muito se informa, muito se pega na internet. Obviamente, é útil, mas não basta. Fica um saber fragmentado, disperso. Pouco se retém, pouco se reflete, pouco se assimila e se aproveita em benefício próprio e em benefício dos outros.
Dá para pensar. E redirecionar. De que vale o meu conhecimento, se ele simplesmente vai ser sepultado comigo? Não podemos fazer diferente? Saber para quê?
Tradutor Público Juramentado
Tradução de textos, diplomas e outros documentos exarados em Latim.
Matrícula na Junta Comercial do Estado de Minas Gerais: Número 783.
José Nazareno Ataíde
Membro da Associação dos Tradutores Públicos Juramentados do Estado de Minas Gerais
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HOMOSSEXUAL, POR QUE NÃO?
OSCAR 2009
Entre os filmes agora premiados pela academia de cinema, destaca-se Milk - a Voz da Igualdade, que acaba de conquistar o Oscar de o melhor ator e de roteiro original, nele estrelando Sean Penn. O filme conta a real história de Harvey Bernard Milk (1930-1978), o primeiro político assumidamente homossexual na história dos Estados Unidos. Em 1977, depois de anteriores tentativas, foi eleito para ocupar um cargo público HOMOSSEXUAL Por que discriminá-lo? Por que excluí-lo, como se homossexualidade fosse uma deformidade, uma perversão sexual, um crime, um pecado? Os homossexuais são ainda a classe social mais discriminada. Foram perseguidos pelo nazismo; descartados pelo fundamentalismo e puritanismo religioso; continuam socialmente rejeitados. Discriminação bruta, cruel, mesmo quando disfarçada. Paradoxalmente, as religiões são a mais intensa fonte de discriminação dos homossexuais. Das religiões o preconceito migrou para toda a sociedade. Essa visão torta é mais um lixo a ser banido de nossas criações culturais.
QUE DISSERAM OS GREGOS? Pelo artifício literário de sua mitologia, os gregos legaram-nos o ensinamento de que a homossexualidade é algo ligado à natureza, não à moral. Cada ser humano tem em si dois lados, dois aspectos: masculino + feminino; ou masculino + masculino; ou feminino + feminino. Tendo os humanos desobedecido aos deuses, Zeus, a divindade máxima, se irou, pegou uma espada e dividiu cada um ao meio, separando as duas metades. Resultado: ficou masculino sentindo carência de feminino e vice-versa; masculino sentindo carência de masculino; feminino sentindo carência de feminino. Isso é da natureza; pode casualmente acontecer. Tão natural que até Zeus, o deus máximo da mitologia grega, Júpiter para os romanos, tinha o seu parceiro homossexual, Ganimedes, ao qual amou e levou para viver com ele no monte Olimpo, trono da alta corte dos deuses. As mulheres homossexuais daquela época existiam numerosas em Lesbos, uma das ilhas gregas, donde lhes veio a denominação de lésbicas. FATO DA NATUREZA Consequentemente, nenhum fundamento existe para discriminação, a não ser os deletérios e falsos fundamentos culturais. Tudo fluía naturalmente, ao ritmo da mãe natureza, antes de aparecerem as mentes poluídas, envenenadas, que listaram a homossexualidade no rol dos crimes, dos pecados. Por analogia, cabe aqui o alerta dado por Jesus: No princípio, não foi assim; isso aconteceu pela dureza de vossos corações (Mt. 19, 9). Na dureza do coração humano é que nascem culturas cruéis, intolerantes. Nenhuma lei erradicará a discriminação, nem esta contra os homossexuais nem quaisquer outras; a discriminação só desaparecerá quando cada pessoa a extirpar da sua mente, do seu coração.
Harvey Milk 30th from TwinkleToes on Vimeo.
HOMENS E MULHERES SÃO IGUAIS
Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações. Isso consta
O presidente Barack Obama, cercado de representantes do mundo feminino, sancionou, há poucos dias, uma lei, tornando obrigatória a isonomia salarial de homens e mulheres. Portanto, não é só nos cantões do mundo que ainda prossegue a longa luta delas em busca da igualdade de direitos.
Nas primeiras páginas da Bíblia (Livro do Gêneses, cap. 2º), narra-se, em linguagem simbólica, que a mulher foi tirada da costela do homem. Se foi tirada da costela, está ao lado, é companheira; outra seria a mensagem, se lá estivesse escrito que a mulher foi tirada da sola do pé do homem.
Mas, no decorrer da história, a cultura judaico-cristã, bem como outras culturas orientais, excluíram e discriminaram a mulher, considerando-a subordinada ao homem. Mesmo no Novo Testamento, relata-se, por exemplo, que, na multiplicação dos pães, realizada por Jesus, havia cinco mil pessoas, sem contar mulheres e crianças (Mt 14,21). Na carta que escreveu aos cristãos da cidade de Éfeso (Ef. capítulos 5º e 6º), o apóstolo Paulo determina que as mulheres sejam subordinadas aos seus maridos; da mesma forma, determina, logo a seguir, que os escravos sejam subordinados e obedientes aos seus senhores. A Bíblia não é um livro celeste. Escrita por mãos humanas, consta de livros (Bíblia, em grego, significa “livros”, no plural) feitos em determinadas épocas, por determinadas pessoas, de determinados lugares, refletindo a cultura do tempo em que foram redigidos. Livro admirável, visto como de origem divina, por todos justamente reverenciado, a Bíblia contém sábios conceitos e orientações morais, religiosas, muitas delas mutáveis, como mutáveis são as criações culturais. Bíblia não é livro científico nem de cosmologia. Ao normatizar o relacionamento entre homem e mulher, retrata a cultura dominante na época.
Isso contribuiu para que, no decorrer da história, homem e mulher se apresentassem, respectivamente, como principal e acessório. Com muita luta, às vezes sangrenta, a mulher vem conquistando o seu lugar: ao lado do homem. O ser humano é um só, com dois lados: o feminino e o masculino, dois lados da mesma moeda. Os dois se completam, como duas metades que se juntam.
Com perspicácia e olhos de águia, os pensadores gregos, bem antes de Cristo, tiveram uma visão igualitária do homem e da mulher. Na sua mitologia, imaginaram 12 deuses (a alta corte, o alto clero da divindade) residindo no monte Olimpo, norte da Grécia. Eram, sim, doze deuses, mas assim distribuídos: seis deusas e seis deuses; seis casais, cada deus com sua deusa: Zeus e Hera; Poseidon e Deméter; Apolo e Ártemis; Hermes e Atena; Ares e Afrodite; Hefesto e Héstia. Cada deus grego tem o seu correspondente na mitologia romana.
Na visão mitológica daqueles pensadores, nem se pensa em exclusão da mulher; isso veio depois. Na cultura judaico-cristã, masculinizamos a divindade. Como conseqüência lógica, o homem preponderou sempre e em toda parte. Mas a luta continua: a ascensão da mulher está aí, em ritmo acelerado e sob aplausos. Há um retorno à fonte: homens e mulheres são iguais.
OS PROFETAS
Integro-me à multidão que grita socorro em favor dos profetas de Congonhas. Seria demência deixar perecer as obras de um gênio.
Não foi por acaso que Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, deixou seu talento esculpido naqueles blocos de pedra que o mundo todo reverencia.
Quem foram os profetas?
Etimologicamente, profeta não significa apenas aquele que prediz, como se fosse um adivinho, um vidente. De origem grega (profétes), do verbo profemí, a palavra significa também aquele que fala por, que fala em lugar, em nome de alguém. Veja-se como se parecem as palavras profeta e professor; têm a mesma raiz. O professor é um profeta, um embaixador, um intérprete. Os profetas eram embaixadores, intérpretes, portavozes de Deus.
Na cultura hebraica, da qual emergiu a cultura cristã, diferentemente da cultura babilônica e egípcia, também os governantes estavam subordinados às leis, consideradas divinas. Quando as infringiam, os profetas gritavam, denunciavam, apontavam o infrator, fosse quem fosse. A isso chamamos hoje Estado de Direito, regime em que os próprios governantes, os próprios legisladores estão subordinados às leis. Na Babilônia e no Egito, o governante supremo era absoluto, acima das leis; assim eram os Faraós.
Entre os Judeus, o profeta se colocava entre o rei e o povo, para que sua majestade não fulminasse a multidão com atitudes e preceitos arbitrários, opostos às leis e aos divinos ensinamentos transmitidos por escrito ou de viva voz pelos antepassados.
Assim, quando o rei Davi, pai de Salomão, reinou em Judá, por volta do ano 1010 a. C., cometeu, no exercício de seu cargo, um crime cruel e covarde: provocou a morte de um de seus soldados, de nome Urias, a fim de ficar com a mulher dele, a bela Betsabéia. E o sórdido plano de Davi se realizou. Foi quando se levantou um profeta, Natan, que apontou o rei como adúltero, infrator de uma lei à qual ele estava subordinado. O filho de Davi com Betsabéia não sobreviveu (veja, na Bíblia, no Antigo Testamento, os capítulos 11 e 12 do 2º Livro de Samuel).
Sob a denúncia do profeta, Davi, caindo em si e reconhecendo o seu pecado, chorou amargamente; seu arrependimento ficou registrado no Salmo 51, que se inicia com estas palavras: Tem piedade de mim, ó Deus ...
Por aí se vê que a principal função do profeta é falar, anunciar, denunciar, não silenciar diante do erro. Ser profeta é agir como Natan com relação ao homicídio e adultério cometido pelo rei Davi.
Precisamos de profetas. Não deixem cair os de Congonhas.
São dezesseis os profetas que constam como tais no cenário bíblico:
Isaías; Jeremias; Ezequiel; Daniel; Oséias; Joel; Amós; Abdias; Jonas; Miquéias; Naum; Habacuc; Sofonias; Ageu; Zacarias; Malaquias.
Obviamente, e aqui não cabe fazê-lo, podem-se garimpar maiores detalhes acerca dos profetas e das características de cada um.
Os quatro primeiros são denominados Profetas Maiores, devido à maior extensão dos textos que lhes são atribuídos: Isaías tem 66 capítulos; Jeremias, 52; Ezequiel, 48; Daniel, 14. Os outros doze, pela menor extensão de suas profecias, são chamados Profetas Menores. A profecia de Abdias consta de um só capítulo; de dois capítulos a de Ageu.
É hora de gritar. Todos os responsáveis estejam atentos aos brados de Minas Gerais, do Brasil e do mundo: não deixem cair, sob os golpes dos vândalos, da incúria e das intempéries, os profetas de Congonhas. É obra de gênio. É patrimônio da humanidade.
Israelitas (Judeus) x Ismaelitas (Palestinos), uma rixa antiga
Vê-se, pois, que a rixa entre Judeus e Palestinos é uma rixa antiga. Parece serem irmãos siameses, unidos pelas entranhas da história e de um pai comum. Não podem viver separados; não aceitam viver juntos.
O mundo todo anseia que Ismaelitas e Israelitas se abracem, que os filhos de Sara e os filhos de Agar se entendam. Pai Abraão vai sorrir. Também o mestre Jesus. Amém.
ESPADA E BALANÇA
É muito rica a simbologia da Justiça
Na mitologia grega, Zeus, o deus supremo, uniu-se a Thêmis, deusa da justiça, meio divina e meio humana, dos dois nascendo três filhas: Eunomía (boa lei), Díke (justiça) e Irene (paz). Tão simples e tão longe: havendo boa lei, haverá justiça; havendo justiça, haverá paz. Os deuses do Olimpo precisam continuar inspirando os habitantes deste planeta.
Veio, mais tarde, outra forte simbologia da justiça: a espada e a balança.
Rudolf von Ihering, jurista alemão (1818-1892), dá a sua interpretação transparente, magistral.
Espada e balança. Nem só a espada, nem só a balança. A espada, sozinha, seria crueldade, força bruta. A balança, sozinha, seria fragilidade, impotência. A junção e harmonia das duas constitui a essência do Direito, cujo princípio fundamental foi lançado pelo Romanos. No dizer do jurisconsulto Ulpiano (170-228), tria juris praecepta: honeste vivere, neminem laedere, unicuique suum tribuere. São três os preceitos do Direito: viver honestamente, a ninguém prejudicar, dar a cada um o que é seu.
Na busca desse ideal, caminha o Direito, no qual a espada significa a força, o poder do Estado: a norma jurídica é obrigatória, imperativa, pois o Estado lhe confere essa força de obrigar (vis obligandi).
Balança, por sua vez, é a ponderação (pondus, na língua latina, é peso). Ponderar é pesar, ouvir as partes sem ser parte, sendo imparcial; comparar, equilibrar, balancear, buscar a eqüidade, a proporção.
O que é que vai ser pesado, ponderado?
Três coisas, no iluminado ensinamento de Miguel Reale (1910-2006), na sua teoria da tridimensionalidade do Direito: o fato, o valor e a norma. O fato acontece; o valor ilumina; a norma determina. Diante de tal fato, o legislador, à luz de tais valores, edita tal norma. Estamos no cerne do Direito.
Aristóteles, no século IV antes de Cristo (384-322), já alertava para a dificuldade e conseqüente risco que existe quando se aplica uma lei geral, abstrata, a um caso concreto, específico. Aqui reside o perigo de se fazer injustiça, adverte o grande pensador, pois é impossível a lei prever todas as hipóteses possíveis.
Se o julgador se deixa levar somente pela força da espada, vai-se prender apenas ao que está escrito. Agirá como um fundamentalista, mero fazedor de subsunção (enquadramento, adaptação) do fato ocorrido à norma-padrão (tipo). Por isso se dá a essa atividade mecânica o nome de tipificação.
Muito mais do que um autômato aplicador de leis preexistentes, o julgador tem o poder de criar uma norma jurídica concreta, a partir de uma norma jurídica genérica, via interpretação. Interpretar é criar.
Vale lembrar a sabedoria bíblica: a letra mata; o espírito é que dá a vida (2 Cor., 3, 6).
Espírito é a inspiração, o sopro, a interpretação; aqui entra a balança. Não basta a letra; é preciso descortinar o espírito da lei. O que está escrito ainda não é a norma jurídica; é apenas o texto. Tal texto, para ser aplicado, passa pelo filtro da Hermenêutica, a ciência da interpretação, atividade específica do deus Hermes (Mercúrio para os Romanos), filho de Zeus, mensageiro dos deuses. Só no ato da interpretação é que nasce e se encarna a norma jurídica, antes geral e abstrata.
Evidentemente, o texto da lei é necessário; é um parâmetro, o ponto de partida, nem sempre o ponto de chegada, pois, em muitos casos, se julga além da lei (praeter legem). Direito Positivo é apenas uma parte, a ponta do iceberg. O que vem submerso é muito maior, muito mais. O Direito transcende a lei.
O texto isolado é letra morta; a interpretação dá vida e eficácia ao que está escrito, transpondo a letra fria e inerte. Interpretar é função da balança. O que aconteceu? Quem praticou o ato? Onde? Com que meios? Em que circunstâncias? Com que finalidade? Como? Quando? Para essa análise, não basta o texto legal. Por isso existe o delegado, o promotor, o advogado, o juiz etc; cada aplicador da lei com a sua função específica, todos em harmonia, em mútua complementação. Área essencialmente humana, impenetrável às acrobacias da cibernética.
No campo da música, acontece algo semelhante: uma coisa é compor o texto musical; outra coisa é interpretá-lo. A interpretação traz dinâmica, movimento; engrandece e valoriza o texto.
Como ciência social, humana, o Direito não é terra firme, estática. É um oceano, de superfície fluida, oscilante, onde as ondas nem sempre são serenas. Essa instabilidade (cada caso é um caso) é que faz a beleza do Direito. Ciências exatas é uma outra praia.
Saber harmonizar o rigor da espada e a flexibilidade da balança é sinal de sabedoria.