OS PROFETAS


Integro-me à multidão que grita socorro em favor dos profetas de Congonhas. Seria demência deixar perecer as obras de um gênio.

Não foi por acaso que Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, deixou seu talento esculpido naqueles blocos de pedra que o mundo todo reverencia.

Quem foram os profetas?

Etimologicamente, profeta não significa apenas aquele que prediz, como se fosse um adivinho, um vidente. De origem grega (profétes), do verbo profemí, a palavra significa também aquele que fala por, que fala em lugar, em nome de alguém. Veja-se como se parecem as palavras profeta e professor; têm a mesma raiz. O professor é um profeta, um embaixador, um intérprete. Os profetas eram embaixadores, intérpretes, portavozes de Deus.

Na cultura hebraica, da qual emergiu a cultura cristã, diferentemente da cultura babilônica e egípcia, também os governantes estavam subordinados às leis, consideradas divinas. Quando as infringiam, os profetas gritavam, denunciavam, apontavam o infrator, fosse quem fosse. A isso chamamos hoje Estado de Direito, regime em que os próprios governantes, os próprios legisladores estão subordinados às leis. Na Babilônia e no Egito, o governante supremo era absoluto, acima das leis; assim eram os Faraós.

Entre os Judeus, o profeta se colocava entre o rei e o povo, para que sua majestade não fulminasse a multidão com atitudes e preceitos arbitrários, opostos às leis e aos divinos ensinamentos transmitidos por escrito ou de viva voz pelos antepassados.

Assim, quando o rei Davi, pai de Salomão, reinou em Judá, por volta do ano 1010 a. C., cometeu, no exercício de seu cargo, um crime cruel e covarde: provocou a morte de um de seus soldados, de nome Urias, a fim de ficar com a mulher dele, a bela Betsabéia. E o sórdido plano de Davi se realizou. Foi quando se levantou um profeta, Natan, que apontou o rei como adúltero, infrator de uma lei à qual ele estava subordinado. O filho de Davi com Betsabéia não sobreviveu (veja, na Bíblia, no Antigo Testamento, os capítulos 11 e 12 do 2º Livro de Samuel).

Sob a denúncia do profeta, Davi, caindo em si e reconhecendo o seu pecado, chorou amargamente; seu arrependimento ficou registrado no Salmo 51, que se inicia com estas palavras: Tem piedade de mim, ó Deus ...

Por aí se vê que a principal função do profeta é falar, anunciar, denunciar, não silenciar diante do erro. Ser profeta é agir como Natan com relação ao homicídio e adultério cometido pelo rei Davi.

Precisamos de profetas. Não deixem cair os de Congonhas.

São dezesseis os profetas que constam como tais no cenário bíblico:

Isaías; Jeremias; Ezequiel; Daniel; Oséias; Joel; Amós; Abdias; Jonas; Miquéias; Naum; Habacuc; Sofonias; Ageu; Zacarias; Malaquias.

Obviamente, e aqui não cabe fazê-lo, podem-se garimpar maiores detalhes acerca dos profetas e das características de cada um.

Os quatro primeiros são denominados Profetas Maiores, devido à maior extensão dos textos que lhes são atribuídos: Isaías tem 66 capítulos; Jeremias, 52; Ezequiel, 48; Daniel, 14. Os outros doze, pela menor extensão de suas profecias, são chamados Profetas Menores. A profecia de Abdias consta de um só capítulo; de dois capítulos a de Ageu.

É hora de gritar. Todos os responsáveis estejam atentos aos brados de Minas Gerais, do Brasil e do mundo: não deixem cair, sob os golpes dos vândalos, da incúria e das intempéries, os profetas de Congonhas. É obra de gênio. É patrimônio da humanidade.

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